Passei as últimas duas semanas na China, o lugar perfeito para sentir que desapareci.
Foi uma viagem de aniversário. Queria envelhecer de forma totalmente incógnita para sentir que a solidão pesa menos. É muito mais fácil estar sozinha em um lugar estranho do que em lugares familiares, a gente se sente menos isolada e ao mesmo tempo meio que realmente pertencente à família humana de alguma forma.
Tenho pensado cada dia mais na direção que a minha vida está tomando. Sei que ela vai seguindo seu curso e que eu não preciso necessariamente fazer “nada”, porque a vida já está naturalmente indo para algum lugar como sempre foi, mas também sinto o peito apertado e uma sensação de apavoramento total nessa coisa de deixar tudo simplesmente tomar seu rumo.
Aí penso: temos realmente algum controle? Poderia eu controlar o futuro? Não sei a resposta. Acredito no controle das minhas ações íntimas, dos meus pequenos movimentos, mas de forma geral, estamos meio que vivendo e esperando pelo melhor mesmo enquanto acontecem muitos nadas e outras coisas decepcionantes ou não. Às vezes algo brilha aqui e ali e a vida acaba sendo também esse acúmulo de des-acontecimentos mesmo. Tenho tentado fazer as pazes com isso.
Sentei para escrever e compartilhar estas fotos hoje porque estou me sentindo meio para baixo.
De repente pode ser um bode pós-viagem. Foi muito intenso estar lá do outro lado do mundo (perguntei ao DeepSeek qual a distância entre a cidade em que nasci no Rio Grande do Sul e a capital da China e ele me respondeu que a linha reta entre os dois lugares é de aproximadamente 18.000 km) e sentir que sim, eu existo e faço parte do planeta Terra. Sou um indivíduo com sonhos e desejos e tudo mais que nos compõe (muitas vezes à noite, no escuro, me pergunto se sou real!!!) e me movimento em parte por curiosidade e em parte por buscar algo que não sei bem o que é (estamos todxs em busca de algo)
Meu sonho seria me deparar com alguma coisa e sentir “é isso, todos os meus caminhos me trouxeram até aqui exatamente por isso”, mas sei que essa é uma expectativa que será sempre frustrada. Enquanto isso, sigo em minhas andanças.
Em termos práticos, foi muito fácil viajar pela China, pelo menos nos lugares em que estive. Eu só sei falar 谢谢 (obrigada) e 您好 (olá!) e minhas interações com os locais não necessitaram de tanto mais (eu adoraria, claro, ter tido um contato maior e conversado muito para saber tudo o que fosse possível). É engraçado como não falar um idioma e não entender muito do que se passa ao teu redor desbloqueia todo um campo de gestos e expressões faciais que a gente normalmente não usa. A comunicação não-verbal é tão preciosa. :)
Lembro de, na adolescência, pensar em duas coisas com bastante insistência: uma era que eu queria não falar nunca mais e me comunicar apenas pela escrita, e a outra era que eu adoraria simplesmente sair pela porta de casa e andar, andar, andar até chegar ao fim do mundo (o mundo tem fim?).
Definitivamente não acho que a China é o fim do mundo, mas essa viagem realizou sim, de alguma forma, esses dois desejos (ok, não fui andando até lá, mas caminhei bastante, vai…).
Nada é como idealizamos e é bom, às vezes, parar para pensar no que outras versões mais antigas do nosso eu gostariam de ser ou fazer e olhar para o hoje e pensar que, de alguma forma, nossos pés acabaram nos levando para perto daquilo que a gente tanto queria. Talvez eu só seja extremamente privilegiada, mas espero que você que está lendo possa encontrar também na tua história os caminhos de alguns sonhos antigos realizados de formas diferentes, mas igualmente belos e significativos.
Um beijo!


























